Aquele Caderno

Em terapia

Imaginei que ao terminar In Treatment (ao menos a parte da primeira versão da HBO, que vou chamar de bloco do Paul Weston), ficaria muito reflexivo em relação ao fazer terapêutico e ao caminho que não segui da psicologia. Agora estou aqui, pensando e refletindo, em como nós somos autores de nossas próprias vidas e estamos sempre buscando um outro fator para por a responsabilidade nisso.

Curioso também, terminar essa série hoje, voltando de uma viagem a qual conheci uma nova cidade e uma coisa que tinha vontade de vivenciar, mas ter me sentido, de certo modo, podado por não ter o controle total do que fazer ou onde ir nesse local, já que estava em posição de visita e convidado como adjacente, mas me sentindo confortável nesse lugar, pelas pessoas e parcerias. Apesar dos fatores positivos, ainda me é um pouco frustrante por questões de idade, independência, desejos e oportunidades, ficar numa posição de dependência. Refleti, nesse momento, o como preciso aprender e tomar a frente para montar situações assim onde eu (ou os outros que também estejam como responsáveis) sejam donos de si e em igualdade, não sempre respondendo a alguém de cima, seja uma figura específica ou dono de alguma casa.

Uma breve introdução da série, caso eu me esqueça em algum momento (porque isso não é um texto de review), é que temos Paul como protagonista. Um terapeuta de meia idade, interpretado por Gabriel Byrne, atendendo pacientes, uma vez por semana. Acompanhamos um paciente por dia e na sexta-feira, Paul é o paciente, indo a terapia e se mostrando tão problemático quanto os seus pacientes ou pior até. Meu choque inicial desde o início foi como ele, mesmo sendo um doutor e tendo anos de prática, não conseguir ser uma pessoa aberta ou honesta o suficiente consigo mesmo nos momentos em que se está no outro lado do atendimento.

Obviamente há um reflexo gritante comigo, que mesmo estando seguindo o caminho da educação, ainda carrego vícios do meu ensino básico em não estudar e procurar saber o que vai ser quantificado nas avaliações para focar nisso. Minha ideia a partir de agora é mudar isso, eu realmente preciso aprender, estudar e ser responsável para comigo. O hábito da escrita vem sendo reforçado para que seja uma excelente porta de entrada para isso. Curioso porque, na segunda temporada, é uma das coisas que uma paciente comenta e Paul volta a praticar, mostrando resultados e melhoria na qualidade dos atendimentos, registros e constância do ritmo e memórias que ele pode retornar.

Por fim, e ainda processando o recém visto último episódio da terceira temporada, terapia também envolve alta e é algo que tem me assustado. O assunto surgiu novamente na última consulta e tenho pensado a respeito. Aqui, precisarei colocar a metafóra da minha psicóloga para que eu mesmo me lembre, de tempos em tempos:

"Quando eu falo de alta, não se preocupe porque sei que passa a ideia de que estou deixando você seguir sozinho e saindo de cena. Mas se lhe ajudar, é mais como se eu falasse para um filho que pode ir brincar, sem eu estar por perto, mas estarei olhando da porta para você saber que precisando, é só voltar que estarei ali."

Paul e seus pacientes, cada um à sua maneira, me mostraram as diferentes faces da terapia e o que a gente pode (principalmente) evitar em um consultório, mas também o que faz da gente bons pacientes, para o processo e para nós mesmos.
Para Laura, Alex, Walter e Sunil, meu muito obrigado, acompanhar vocês com todos os seus respectivos problemas e reviravoltas foi uma delícia e nervoso para cada semana; A Sophie, April e Jesse, que apesar dos temperamentos bem complicados da adolescência e início de vida adulta, vocês tenham se encontrado e se curado; Jake & Amy, Mia e Frances, foram muitas coisas e não consegui me conectar muito bem com vocês; Oliver, que seus pais tenham se entendido e você também nesse processo de divórcio; Gina, você fez o que podia com um paciente como Paul; Amy, parabéns pela paciência e fôlego.
Paul... Eu te julgo, mas a pior parte e motivo de tanta escrita, é que me identifiquei. Obrigado.