Aquele Caderno

Henshin

Não costumo acreditar que percebamos quando entramos em um momento de mudança, só quando já passamos por ele. Pensando em situações macro, ninguém imaginou, em Março de 2020, que entraríamos em um momento como foi a pandemia e cá estamos. Apesar disso, dessa vez, eu consigo me ver numa nova etapa e precisando me adaptar, com antemão, para o que há de vir.

Eu ainda não consigo confirmar para mim mesmo, só quando estiver entregando os documentos tudo certinho, mas vou confiar na manifestação e no edital já com meu número e verbalizar abertamente pela primeira vez. Eu ingressei no mestrado. Ainda não sei ao certo como lidar e pouquíssimas pessoas estão sabendo, meus pais nem sabem que eu estava no processo seletivo, mas eu consegui, com todas as dores de cabeça, incomodos e desafios, "classificado/a com vaga" segundo o resultado final já publicado. E isso está me fazendo pensar muuuuito na minha postura pessoal e profissional, assim também como na maneira de viver e me portar perante as responsabilidades. A escrita, as listas, e a autoreflexão tem sido cruciais nesse momento então, esse texto, é um compromisso e firmamento, de mim para mim.

Curioso eu ter finalmente tomado a coragem de escrever e quando pego o celular está uma notificação do The Pattern dizendo "Today, you're starting a cycle in which your life will likely radically chance. Over the next ten months, you won't always be in control of what happens. You could feel an inner restlessness that prompts you to change everything - or radical, unpredictable events might come into your life that alter your path forever. If you try to hold on too tightly or deny what's happening, even more extreme changes may come for you - the more you can go with the flow, the better.

Junto a isso, me veio a confirmação de que a mudança não é só no status da coisa (graduação, especialização, mestrado... Resultados e méritos diferentes mas a sensação ainda é a mesma pra mim), mas a necessidade de me adaptar e encarar com maior seriedade, me comprometer mais e ser, principalmente, mais responsável, comigo e com os processos. E isso veio da especialização. Essa que eu, na verdade, nem me sinto fazendo por conta da postura remota e online, mas totalmente útil para minha área, se me manter em Letras. Pensando também em todo o processo que foi (confirmando o pretérito perfeito já) o processo seletivo do mestrado que, diferente de um ENEM e SiSU, me drenaram física e psicologicamente, é crucial que eu mude. E isso também se torne uma mudança física e eu consiga alcançar novos lugares e o meu próprio espaço.

Como comentei, areavaliação e auto observação tem sido as coisas que mais tenho feito mas pouco posto em prática para além das listas. Tenho encarado, nesse primeiro momento, as coisas que preciso começar a fazer, e isso vale para todos os âmbitos da minha vida. E querendo ou não, talvez como resultado das dinâmicas escolares, a rotina funciona muito bem pra mim.

  1. Definir horários específicos para as coisas tem se mostrado ser fundamental, à mesma medida que eu consigo identificar que, se disser que tal horário é para fazer determinada coisa, eu só preciso me preocupar com aquilo ali, e não ficar me corroendo com ansiedade e me paralisar antes e ficar em agonia horas antes. É uma das coisas que mais tenho dificuldade, principalmente pela prática das aulas e incerteza que tenho, principalmente por depender da confirmação de outras partes ou de ter alunos que eu nem precise preparar materiais, mas ainda assim, é um hábito necessário.

  2. Totalmente relacionado a questão dos horários, o hábito é algo que eu consigo aprender. E uma coisa que eu não só quero como preciso nessa nova postura é aprender, então um novo hábito é a porta de entrada. E com isso, eu tenho me comprometido a aprender a estudar. Aprender as minhas formas atuais de estudar. A leitura e a escrita são as chaves dos cursos de Letras mas também são os meus principais elementos de externalização e aquisição de coisas. LEITURA: Ter momentos para realmente ler os textos das disciplinas, por lazer, pelas minhas pesquisas ou os livros que quero tirar da lista de espera são importantíssimos. Uma das coisas que estou tentando fazer é entender o meu perfil de leitor e de humanidade: eu reconheço que há uma ansiedade presente na minha maneira de ser e isso sempre se manifesta em coisas que não são perceptíveis de inicio, como assistir, leitura ou jogos. O que eu sempre faço é checar quanto tempo eu vou depositar naquela questão, seja essa a duração do filme, a quantidade de páginas do livro ou o potencial tempo para concluir o jogo. E por que não trazer isso a meu favor? O tempo dos filmes é extremamente útil quando eu penso em ver um filme rápido e isso se mostrou funcionar, então minha experiência atual está sendo a de quantificar, não a quantidade de páginas dos livros mas a quantidade de capítulos e criar estratégias com isso. Somando à rotina, eu acho que é uma dupla poderosa. ESCRITA: E, puxando totalmente a sardinha para o meu lado, inputs e outputs, a escrita como o outro lado da moeda, e ser o momento de diálogo de mim para mim. Do processo para o passado e revisão. A ideia de ter criado o blog veio disso. Não só de criar um lugar de registro, retorno e, talvez criação da minha própria narrativa enquanto estudo a biografia alheia, mas também de ter um lugar para olhar pra trás e encarar meus processos. Essa sempre foi a ideia dos meus inúmeros cadernos comprados e abandonados. Ter um registro de quem fui para, lá na frente, olhar onde cheguei e qual caminho foi ou não foi. Leitura e escrita, de mãos dadas.

  3. Talvez esse seja o mais complexo ou mais pessoal para se achar uma palavra ou termo, mas acredito que aqui seja a Auto. A auto observação, a auto avaliação e terapeutização dos processos. É a camada em que eu estou tentando, como Mariana comentou, seguir os caminhos sabendo que a figura de apoio está apenas da porta e confiando no processo, e que daqui pra frente, eu preciso estar ciente de mim mesmo e encarando as minhas coisas, mais do que eu já faço agora. Para além da terapia, essa postura veio muito do processo seletivo em si. Não me desesperei totalmente, mas quando houve a questão do comprovante de idioma e da minha leitura torta, tanto do edital, quanto da prova do NuPEL e também do meu próprio diploma, aquilo deixou uma marca que eu não quero repetir e preciso estar mais atento a mim mesmo. Daí veio isso tudo. É estar fazendo terapia em mim, sendo também, meu lugar seguro, de acolhimento e bancando minhas coisas.

Essa etapa está sendo curiosa e, não nego, estou me comendo muito por dentro. Há partes de mim que dizem que eu não vá conseguir pelo ambiente, outras que pensam que eu já estou muito bem se comparar com o cenário anterior e outras que me comparam com outros, essa é a que eu menos gosto. Mas eu sei que estou criando a MINHA estrada e que é nova, assustadora e, até onde eu saiba, não tem pavimentação. A ideia é constantemente estar atento às coisas, conhecer a mim mesmo, meus limites e ser alguém melhor, para mim e para as pessoas que me cercam, porque é o que eu quero, o que eu preciso. O que há de vir é mudança. E as coisas estão começando...