Iron Heart
Fui assistir à série por já estar envolvido no esquema de pirâmide da Marvel. Riri não é uma personagem que eu conheço, nem é do núcleo de heróis que eu gosto (tecnologia eu acho bem qualquer coisa), ainda mais sendo uma pessoa que se inspira em Stark, outro que não sou fã. Sua participação em Pantera Negra 2 também foi ok, não é um filme que eu me lembre muito, apesar de ter gostado de Namor, o real protagonista lá. Assim, também não me lembro muito dela no filme sendo que é um recurso e daquelas introduções soltas na franquia. Apesar disso, sabia que ia assistir.
A única coisa que eu sabia da personagem é que nos quadrinhos, a AI dela é o Tony Stark, que estava morto naquele momento da história. Obviamente, isso seria impossível na série e fiquei curioso pra entender como que substituir ele, o queridinho da franquia, por uma garota negra ia ser e várias surpresas. Natalie são dois personagens, a amiga morta e a AI feita das memórias de Riri, que gera dilemas que funcionam muito bem. Devo dizer também que a atriz (Lyric Ross) é muito carismática e funciona bem demais.
Me incomodou o formato que a plataforma resolveu lançar a série, em dois blocos semanais de três episódios de vez. Pensei que fosse algum tipo de boicote, afinal pensar que a Disney fosse realmente valorizar uma produção negra, de uma personagem mulher, que enfrenta traumas de violência urbana e ainda tem um grupo com outras pessoas de cor, da comunidade LGBTQIA+ e sem ter uma conexão direta com o MCU seria sonhar demais. Não preciso ir muito longe pra lembrar o que foi Acolyte para o fandom de Star Wars, mas esse por si só já é bastante problemático. Agora, alguns minutos após ter concluído a série, entendo que funciona. Iron Heart é uma série, sim, mas que tem ritmo de filme. Em suas quase seis horas, consegue ser mais enxuta do que outras séries que tem fillers e opta por adicionar núcleos que pouco influenciam na narrativa ou estão preparando terreno para outras obras. Aqui, as coisas fluem e tudo tem um caminho específico.
Sobre a história, repetindo que fui com as expectativas neutras, me surpreendi com as escolhas. Me questionei muito como seria toda essa questão de misturar a personagem tecnológica com um contexto de magia e, só ao final da série, percebi que estava esperando o que sempre reclamo nas obras de origem: o reflexo da heroína no vilão. Se fosse pensar de forma lógica, esperaria que a vilania da série viesse por um caminho de outro personagem com armadura ou inteligente, esperando a grande briga de CGI no final e a superação da heroína frente a todas as falhas que foi mostrando. Mas não. Iron Heart me fez lembrar que não existem regras nos quadrinhos e toda hora uma coisa transborda de uma esfera para a outra.
Um fator que achei muito bom da série e que, pelo visto, tem sido uma tentativa de retorno atual, é que a série em si tem uma estética de quadrinhos, vide como o filme do Quarteto Fantástico tem se construído em sua divulgação e estética retrô. De maneira natural, artística, não que tente emular as HQs. Os personagens, as armaduras, até mesmo a iluminação, coloração, ritmo, capítulos, me fez ciente que eu estava assistindo a algo que veio dos quadrinhos. A martelada final veio com a personagem Zelma (Regan Aliyah) que é um personagem visualmente dos quadrinhos, mas muito bem feito.
Um último ponto e aqui a parte dos spoilers: o último episódio foi surpreendente. Temos uma briga, mas não é o conflito final. A última parte da série é apenas uma conversa. Esta que, finalmente, nos entrega Mephisto, que vem em uma série que não tem a cara que seria o momento para ele. Porém, minha sensação enquanto assistia, foi de lembrar que Mephisto é lembrado, principalmente por seu momento com o Homem-Aranha, outro herói urbano, nada espiritual ou mágico, que em um momento de fragilidade, luto e desespero, aceita um pacto com o demônio para conseguir as coisas novamente. Quase caia no conto que a visão de Riri na oficina era um grande “E se…”, até ver a série acabar e que ela optou por isso. Não é estranho, afinal o desenvolvimento da personagem foi pouco, quando ela começava a aprender a “lidar” com o luto, construindo uma relação com a versão virtual da amiga, sofre novamente ao perdê-la e é quando a tentação aparece em sua vida e é aceita. Pelo fim, estou curioso para ver as próximas etapas dessa história, se é que via acontecer dada a escala atual da franquia por si só, já mirando em Doutor Destino e guerras multidimensionais.
Gostei bastante da série, apesar de ser minha opinião empolgada logo após acabar. É válido eu me lembrar que não sou um opinador confiável, porque quando terminei Daredevil: Born Again, achei que era a melhor coisa da Marvel, enganado pelo primeiro e últimos episódios, esquecendo totalmente do miolo em que a série é um Frankeinstein. Apesar disso, até então, estou contente com a série.