Aquele Caderno

Teatro dos Vampiros

06/08/2024 às 10:39

Recentemente vi um vídeo daqueles que, apesar de ter vindo através do algoritmo do Instagram, me fez para e refletir um pouco (em tradução minha abaixo):

"[Qual foi o momento que lhe ocorreu um estalo e mudou dali em diante sua perspectiva da vida?] Era o meu primeiro dia na terapia e a terapeuta disse: 'Você parece estar muito bem para alguém que nunca foi à terapia, por que você está aqui?' Eu respondi: 'sou um bom marido, um bom pai, um bom amigo, um bom funcionário, mas eu quero ser ótimo em todas essas coisas e eu acho que se eu pudesse fazer isso por mim mesmo, já teria conseguido isso então estou procurando por ajuda.'. Então ela disse: '[Funcionário] é quem você é para o seu trabalho, [marido] é quem você é para a sua esposa, [pai] é quem você é para o seu filho e [amigo] é quem você é para os seus amigos. Quem é você para você mesmo? Quem é você para além desses papéis?'. E aí a realidade bateu e eu me ouvi dizendo: 'Eu não sei se tem muito de alguém além dessas coisas.'. E isso foi o início de eu descobrindo quem eu era no meio dos meus 30."

Desde antes desse vídeo eu já vinha me questionando "quem sou eu?" nesses últimos momentos de minha vida, mas ter encontrado isso, vindo de outra pessoa e numa faixa etária próxima, bateu bastante.


13/08/2024 às 11:00

Alguns dias se passaram desde que comecei a escrever e estagnei nesta reflexão. Apesar disso, o tempo e os encontros no caminho foram interessantes para trazer novas perspectivas sobre o assunto.

Em uma aula, levei exatamente o vídeo para reflexão e debate e a resposta me foi importante para ter uma visão nova. Do ponto de vista do meu aluno, não se há alguém quando tiramos as perspectivas, como se só existíssemos pelo olhar externo. Apesar de entender a resposta associada à pessoa, não é algo que eu concorde. Temos cerne, temos nosso lado mais pessoal e nossas próprias questões, sem performances, sem receios, só nós mesmos.

Num segundo momento, em um encontro muito inesperado e curioso, pude conversar novamente sobre o que é sermos nós e, em meio à questão meio de Teatro dos Vampiros (curiosamente, a cena de Entrevista com o Vampiro que esta congelada na televisão agora), de "não sei quem sou, só sei do que não gosto", entendi que apesar do desespero, essa pode ser uma maneira de começarmos a nos perceber enquanto próprios, apesar de em comparação com outros.

Mesmo que o assunto não tenha sido diretamente tocado ou pontuado, como na aula, a resposta veio de maneira até mais natural, pela ausência do tópico estimulador ou de um encaminhamento de perspectiva. O que acontecia na conversa, era só duas pessoas se conhecendo. E quando se conhece alguém, a apresentação também é necessária. Quando ambos estão em processo de se questionar, de autoconhecimento, de busca, é um processo de conversa tão genuíno e natural que é raro de se ver hoje... Mas aconteceu.

E nisso, em perguntas simples como saber o que faz querer sair de casa, o porquê de me considerar estranho, mihas sensibilidades e outras coisas que deixo passar batido, fui percebendo que identidade pode ser sim, baseada exclusivamente em como você reage ou se compara ao mundo ou como esse te vê, mas também é, no fundo, como você não se vê e como queria ser independente dos outros. Nisso, eu tenho tido melhor um caminho e tentarei me entender a partir disso. Eu posso estar nos meus trinta, sim, desesperado, nervoso, sem saber como contribuir para a sociedade, para o INSS, com uma perspectiva de futuro apenas próximo, pensando em cada passo que eu vá dar, mas todo momento é momento de começar. E como ano passado, exatamente em Agosto, eu senti que minha vida entrava em uma nova temporada, talvez seja a hora do amadurecimento de personagem e melhor definição dessa ficha de quem eu sou.

Independente de meus pais, meus amigos, minha companheira, minhas parcerias de vida, do olhar externo, eu quero saber quem é (nos contínuos da vida), realmente, Uilber.