Saída
Hoje eu saí por sair. Tinha planos para a tarde, mas foram desmarcados; tinha textos para ler, mas a concentração acabou, o calor não deixou. Parecia bobo, parecia pretexto, mas eu saí.
Não demorei quarenta minutos na rua. Peguei a moto e fui até o final da cidade, que é perto de mim. Fui até outra praia. Eu poderia só ter atravessado a rua, mas queria outro lugar. Queria descobrir algumas coisas também: queria saber onde poderia estacionar, se a academia de bairro de lá era realmente interessante, queria saber como eu estava, hoje, pilotando. Acima de tudo, queria só uns momentos, meus.
Não foi difícil descobrir que qualquer lugar servia para estacionar. E foi logo em frente à academia, que estava com movimento mediano, bom para se fazer algum exercício sem muitos julgamentos. E a praia estava ali, logo à minha frente, com a maré seca, o laranja do sol espalhando em tudo, prestes a se por.
Sentei um pouco, por mais que sem jeito. Saí de calça, tênis, camisa normal, meio grossa, shoulder com meus documentos, chave e outras coisas. Procurei a paz que estava procurando ao sair de casa e não achei. Infelizmente, tenho ficado com medo de lugares abertos, a atenção fica redobrada. Ainda assim, peguei o celular. E guardei. E peguei de novo. Tirei umas fotos, queria compartilhar com minhas pessoas que tinha conseguido sair. Mostrei que conhecia a geografia do lugar. Acendi um cigarro, mas com medo de algum conhecido surgir do nada.
Tentei estar totalmente presente ali, mas não aconteceu. Meu corpo estava, minha mente continuava transitando nos diferentes rumos: do que não foi do dia, do que poderia ter sido, do que ainda precisaria fazer quando chegasse, do que queria fazer se pudesse. Essa onipresença do pensamento não me deixou fazer nada por completo. Pouco mais de metade do cigarro, o apaguei e joguei fora, sentia que precisava voltar, já que não queria pegar engarrafamento (de uma distância de nove quilometros de minha casa).
Voltei. Quando cheguei, um dos meus desconfortos já havia voltado, não estava mais fisicamente sozinho. Meu pai. Ignorei, falei o necessário, busquei voltar ao meu canto que tanto quis sair hoje. Trabalhei. Pensei em estudar. Hoje mais não.
Amanhã não sei ainda, mas queria concretizar algo. Não sei se preciso, de fato, de companhia. Esse é meu vício, talvez minha busca por um vazio que um dia aprendo que não precisa ser preenchido. Por enquanto, seria bom. Por fim, espero que eu encontre alguma saída pra não ver o dia passar parado, novamente.