Aquele Caderno

Saudades de quando jogos eram só jogos

Depois de ter assistido a esse vídeo, eu voltei a uma reflexão que tem me tomado, sutilmente em um canto do meu cérebro, a uns anos que é o fato de não conseguir me concentrar em jogar alguma coisa, achar uma comunidade para isso ou mesmo ter jogos, onlines ou não, como um hobby direito, coisa que me foi comum por maior parte dos anos desde que passei a ter computador e internet em casa.

Logo do início do vídeo, Rotan já traz uma perspectiva que ia ser futuramente associada mas me fez refletir: os jogos tinham uma proposta de ser um espaço de exploração e entretenimento, sem constante sistema de recompensas e explosões de dopamina, coisa que provavelmente nada hoje em dia desvia disso. “Jogar algo pela diversão”.

Me lembro que na pandemia, eu busquei algo para me distrair. O modelo remoto ainda é algo que tenho certa dificuldade para me adaptar, e precisava de algo que me fizesse voltar a sentir prazer em estar no computador. Saí do LoL em 2018 por conta dos stresses, repetições e ter sentido que era muito tempo perdido, raramente conseguia ter um momento casual, sendo um mínimo de 50 minutos dedicados a uma partida e desde então, jogos ficaram complicados. Meu último contato positivo foi mais uma questão de nostalgia, jogando novamente GTA: San Andreas de maneira leve, no pós-jogo que tinha salvo, para me divertir e fazer coisas que não tinha feito. Ainda assim, preso a algo e solo.

Minha principal busca desse momento de pandemia sempre foi uma comunidade: achar pessoas para voltar a ter momentos de lazer, conversas, brincar, até conhecer pessoas e criar um grupo, uma party. E pra isso eu fiquei fazendo pesquisas. Procurei por jogos que me pareciam interessantes, opiniões de pessoas que já experimentaram, olhando como funcionavam as comunidades em Reddit, até Facebook, ou mesmo pensar em jogar sozinho e pregar sobre, tentando convidar pessoas. Numa dessas, Albion foi o que mais me pareceu interessante e tentei algumas vezes.

A ideia de um jogo sem classes, sem fechar caminhos para coisas específicas, mudando apenas a arma, você possibilitaria as diferentes coisas que você pudesse fazer. Literalmente, um jogo livre em que cria a sua própria história e faz como o quiser, mas é realmente como funciona na prática? Assim que comecei a me aventurar, foi interessante mas havia uma falta de sensação de progresso. A liberdade parecia um limbo porque não tinha nível, não tinha nada além de masterização das habilidades e ferramentas que usasse. É um sistema de aperfeiçoamento interessante, porém o que eu tava fazendo? Acabei me rendendo já que a evolução também pode ser rápida e segui tutoriais. Mas o conceito de liberdade foi todo pro lixo e não senti que estava fazendo algo meu. Então me afastei, apesar de ainda pensar no modelo as vezes.

E voltando ao vídeo em si, houve também uma profissionalização dos jogos e, principalmente do World of Warcraft. Há uma busca pelas melhores habilidades, itens, buffs, masteries, etc. E onde fica o fator pessoal e diversão? É complicado. Inclusive, isso – para além dos já citados acima – foi um dos motivos para ter me afastado do League of Legends: a ideia de apenas repetir builds, jogabilidades e até mesmo trejeitos de jogadores “profissionais” (outra coisa que vem junto a essa realidade de hoje), me afastou já que eu sempre quis usar os personagens e criar minha própria narrativa ou leitura deles. Mas não são como as coisas funcionam.

Em partes, fico me questionando se a real questão que sinto falta é um jogo onde eu possa explorar minha imaginação e criar uma narrativa dentro daquele universo, ou se sinto falta de um espaço, um avatar, para me jogar em aventuras enquanto crio memórias com pessoas que conheço ou que possa conhecer naqueles lugares. Entrar em uma call enquanto ajeito o inventário, mudo equipamentos ou leio a descrição das habilidades, falando da vida, fofocando da minha, dos amigos ou da vida de pessoas em comum entre nós, ou mesmo desconhecidos. Há saudade de uma leveza em estar no computador e não estar trabalhando, seja realmente ou tentando ser o melhor jogador de algum universo.

Minha última tentativa foi com Stardew Valley, até então. É um universo tranquilo, gostosinho de se estar e há inúmeras progressões para sentir avanço: a limpeza do terreno da fazenda, os níveis de amizade com os moradores da região, as profundezas das minas e até mesmo os nossos equipamentos e minérios novos para criar coisas. Mas, por ser um simulador, o inverno trouxe a depressão sazonal, já que pouco acontece, e dei um tempo. Agora, peguei um novo jogo, uma nova tentativa e, dessa fez, num universo no qual é de se criar um personagem, já sabendo que não há fórmula para esse, então a possibilidade de tentar criar uma narrativa minha. Quem sabe escrever por lazer.

Ainda vou rever esse vídeo. Assistir outros parecidos e explorar a sensação das opiniões e experiências de outras pessoas. Curioso porque o lance de ter achado esse vídeo foi ter me sentido parte de uma comunidade. Um dos comentários fala sobre isso:

Dude my dad is in his 60s and when he heard classic was coming back he asked me to buy him a subscription for his birthday. Both of us played during vanilla and Burning crusade times and he said he wanted to ‘revive’ his character. Last i checked he was level 58. He doesn't party up, he doesn't use discord, he doesn't watch YouTube videos; all he does is explore, do quests, mines, smiths and will run lower level dungeons solo. I always ask him if he's bored yet every time he just says ‘Nope’. One day I told him hes literally playing the way a YouTuber would for a ‘challenge video’ and he just laughed. He genuinely has a ton of fun from just killing mobs and questing. If you see a lone human warrior named ‘Gutwrencher’, say hi.

WoW já foi um jogo meu. Eu me diverti, com meu gnomo warlock com foco em roubo de vida. Ou WYD, quando explorei quase todo o universo andando pra cima e pra baixo com meu Beast Master. Grand Chase era mais linear mas talvez tenha o espaço mais importante em minha trajetória. Meu próximo e mais recente adquirido é Grim Dawn. Vou tentar explorar à minha maneira e relaxar dos momentos e rotinas. Há muitos universos ai e a liberdade vem sido podada na maioria deles, pelos mesmos movimentos constantes.