Uma tentativa de fazer as pazes com a escrita
Tenho estado em um momento muito delicado com a escrita, como se a relação estivesse fragilizada. Geralmente, quando sumo de alguns espaços virtuais é por um momento de falta de pertencimento, de cansaço de alguns comportamentos dos ambientes ou até mesmo cansado de mim, dos meus hábitos que tenho adquirido e coisas do tipo. Isso, por agora, tem sido mais um sintoma do que a causa em si.
Esse último semestre da faculdade, apesar de um dos mais interessantes em sua totalidade (com três disciplinas e nenhuma no meu instituto, cada um à sua esfera e jeito, o retorno das reuniões presenciais do grupo de orientandos do professor, o desafio de uma mudança real no cenário dos meus alunos, uma nova rotina de mobilidade em relação a horários e aulas, coisas da vida pessoal também, tudo isso de vez), ainda me drenaram muito pelo nível de adaptação que me requiriu, assim como também a busca por uma expectativa que não vinha e um ritmo que eu não conseguia acompanhar, por motivos que sei e que também não sei.
Nisso, me encontro de férias agora, mas a sensação de ainda me adaptar segue em mim: estou me sentindo meio desconectado de tudo, principalmente de telas e o escrever, que é um dos meus principais modos de me expressar. Tenho pensado e tido coisas que gostaria de postar em mini momentos no Mastodon, mas travo - às vezes, por não querer ser lido, outras por não querer dizer; quanto a textos, como esse, pensar e tirar um momento para uma escrita que não seja destinada a algo ou alguém tem sido outra barreira, essa até já identificada durante o período de aulas quando entendi que, pra mim, o que funciona na escrita são cartas, preciso falar para alguém, então tenho pensando em adotar sempre um “você”, mesmo que seja para mim mesmo de um outro momento. As estratégias estão aqui, me falta execução, e pra isso, o planejamento é a base.
Dito isso tudo, hoje foi um dia em que eu cogitei fugir novamente das minhas coisas: ia sair de casa, para respirar e parecer que ir para a rua seria motivo de responsabilidade, de agitação, de estar sendo adulto. Percebi que é um movimento de uma falta de hábito de estar comigo mesmo, de assumir meu espaço aqui em casa e lidar com os momentos de que sair não é necessário. Ainda assim, caminhei e fui conversar brevemente. Da mesma forma que estou tentando diminuir o café no meu dia-a-dia, o processo de aprender e ir adaptando às mudanças precisa ser gradual e também tenho que me acolher no meio de tudo. Tudo bem, eu não saí de pegar ônibus ou ir para o centro, passar pela faculdade, isso já significa algo. Aceitei meu lugar em casa, em um dia “comum” e também tentei me observar, procurar hobbies e tentar as coisas que tinham pra ser feitas.
Também não queria fugir do retorno de meu pai. Esse é um fator que eu não comentei com ninguém, mas que preciso falar: meu pai estava viajando desde o final de semana e, quando voltei pra casa no domingo, estávamos só minha mãe e eu. Foram dias de mais silêncio, de dormir cedo, de negociar a televisão da sala, de leveza. Me pergunto se a ausência de meu pai é realmente da pessoa em si ou do que ele representa. Não o considero uma pessoa ruim, mas um pai complicado e um familiar (da parte nuclear) ausente. Me pesa falar algumas verdades e gravar tais coisas, ao mesmo tempo que não nego meu desgosto com muitas coisas no meu cotidiano. Essa luta interna também é muito complexa por si só…
Enquanto tento me entender, tento me encontrar de novo, volto à prática de existir e aqui trago algumas palavras, mesmo que de teste, de expurgo, de vez… Mas estou aqui.